RESENHA: Gulag - Subservient Consanguinity | Metal Garage


"Ai quando cair na parte porrada, a negada vai quebrar as perna, a espinha e vai cair"
- André Neil

No Brasil, assim como em diversos outros países, o underground vive cheio de porcarias e bandas com sonoridade e temática de merda — bem como os próprios membros. De norte à sul, existe diversas gerações de indivíduos loucos para caírem na estrada e se tornarem o próximo Krisiun ou —já praxe, mas não menos importante— Sepultura. 

Podemos passar vários dias numerando bandas e hordas que fazem os primeiros do Sepultura soarem "leves" demais, (risos). Coldblood, Amen Corner, Unearthly, Disgrace In Terror, Pátria... São muitas as bandas que fazem do underground nacional brasileiro ser um dos mais respeitados e admirados no mundo todo — pena que o próprio brasileiro, na maioria das vezes, desconheça ou desacredite nisso.

Além das bandas que permeiam o underground, na espreita de uma fresta para alçar voo e conquista Brasil afora, assim como fizeram os primeiros heróis, também há diversos selos, distros e afins que, durante dia e noite, estão na labuta, oferecendo a cara a tapa, com o principal objetivo de o Metal nacional continuar no mapa. A ajuda e investimento por parte dos selos, assim como o trabalho desempenhado pelos zines, são importantíssimos para manter a chama do metal underground queimando madeira de verão à inverno...

E, como a Metal Garage tem por objetivo principal levar e propagar o metal extremo aonde quer que for, nós editores resolvermos revisitar lançamentos passados, tanto do underground brasileiro, quanto do resto do mundo, e publicaremos pelas próximas semanas, releituras sobre grandes lançamentos que emergiram antes da MG. E para dar o pontapé inicial, a escolhida foi a paulistana Gulag.

Iniciando suas atividades em 2013, com raízes em Campinas - SP, a banda se destaque por apresentar um death metal carregado de influências europeias e americana [do norte] —principalmente sueco, austríaco e estadunidense. O peso das guitarras e do baixo, acompanhados pela bateria, dão uma certa singularidade ao som apresentado no primeiro full-lenght do grupo.

O nome Gulag vem do russo, que significa "Administração Central dos Campos”. Os Gulag eram campos de trabalhos forçados, criado pelos comunistas para explorar o trabalho de prisioneiros. Diversas pessoas morreram por exaustão, ou quando não eram levados até florestas, recebiam um tiro na cabeça e terminavam em túmulos coletivos. Em alguns casos eram mandados para cortar árvores durante o inverno e morriam por causa do frio.

Em 2014 o grupo lança seu primeiro registro, o split "Consanguineous Fury", fruto de uma parceria com a banda Degolate. O disco chama certa atenção, aí o nome dos caras começa a ser mais conhecido. Por quatro anos a banda permanece sem nenhum lançamento, até que em 2018 nasce o moedor de carne "Subservient Consanguinity".

Finalizado na Europa, tendo as linhas de baixo e bateria gravadas no Brasil e o vocal e guitarra na Polônia, o disco apresenta oito faixas. O tempo de preparação valeu a pena, pois o resultado é visceral. Desde a capa, cortesia do artista polonês Piotr Kurek, que retrata o genocídio de "Holodomor", já podemos tomar ciência de que aqui o death metal é levado a sério.

P. S.: Holodomor é uma palavra ucraniana, que significa “deixar morrer de fome”/“morrer de inanição”. A palavra passou a ser empregada no contexto da história ucraniana para definir os acontecimentos que levaram à morte por fome de milhões de ucranianos entre os anos de 1931 e 1933. Assim como o holocausto nazista contra os judeus, Holodomor foi um genocídio contra a população da Ucrânia empreendido pelo comunismo soviético, que era liderado por Stalin. 

Abrindo o disco, temos "Hopeless Inevitability" como introdução: cheia de rosnados e frenética. Rápida e com várias viradas de andamento, além de um belíssimo solo. Os riffs são "encorpados", a bateria é devastadora, as passadas do baixo e o vocal completam o cortejo da introdução na morte de Gulag; "Leprosarium" é algo que Cannibal Corpse não gravou, porém soa melhor em Gulag. Arrastada, o baixo é perceptível em cada passagem, e os riffs de guitarra fazem da segunda um belo tributo ao autêntico death metal old school.

O genocídio continua na floresta, e a cada novo tiro na cabeça, o death metal continua a soar... "Mountains of Melting Flesh" tem algo especial. Talvez seja o solo, o riff pesado... A pausa pra nos deixar respirar, pra em seguida sermos assaltados por mais uma saraivada de blasfêmia e porrada; tudo isso oferece um vislumbre de horror; "Holodomoriam Inebriation" é maldita do início ao fim, porém no meio deixa a desejar;

Em "Plurals of the Void" somos lançados para uma aula de como o death metal nacional deve ser executado. Na verdade, como toda banda de death metal deve soar. Morbid Angel? Ou só eu achei isso? (risos). O baixo continua estridente, os rosnados vociferam com veemência e muita competência.; "Necrogeny" tem uma bela introdução, com a bateria sendo acompanhada pelo baixo. Assim que o autêntico vocal entra em cena, temos belíssimos riffs de acompanhamento. Tudo isso deixa a sexta faixa mais pesada, encorpada e visceral.

Dos anos que se passaram desde o surgimento de Gulag, até o nascimento do primeiro full-lenght, foram por demasiado compensatórios. A banda apresenta toda sua disposição, competência e criatividade na execução de um som que não fica atrás de nenhuma outra banda estrangeira: visceral, pesado, ríspido e frenético.

"Subservient Consanguinity" é a faixa título. Um tanto arrastada, porém continua na mesma linha das anteriores. Mais uma vez, a banda acertou em cheio na composição, arranjo e brutalidade. A bateria martela a todo momento, sem perder o ritmo. O belíssimo solo principal —talvez o melhor do álbum todo—, é o destaque.

Os caras finalizam com a instrumental "The Cry of Duga3". Obviamente, é uma faixa desnecessária. Sete faixas foram mais que suficientes para os brasileiros apresentarem toda sua capacidade em executar um death metal brutal, mas com muita maestria e de excelente qualidade. A oitava obra nos obriga a refletir. É uma bela composição de violão e baixo. Pra mim, faixas instrumentais são idiotas, na maioria das vezes; pois tem banda que adiciona essa merda só pra cobrir o tempo que sobra. Em vez de fazer uma música, ficam na comodidade e só adicionam qualquer barulho estúpido. Mas, esse caso não se aplica ao Gulag. A banda apresenta uma proposta boa, com mais de dois minutos de duração, a faixa merece toda atenção, pois demonstra a educação musical que os caras adquiriram para a criação deste poderoso artefato.

Talvez por não ter uma discografia considerável, o Gulag ainda não obteve o reconhecimento que merece. Entre as principais influências do grupo, podemos citar Six Feet Under, Krisiun e Black Sabbath; talvez isso explique a sonoridade presente em "Subservient Consanguinity".

Recentemente, agora em 2021 a banda lançou seu terceiro registro, "Mors Omnia Solvit", através da Cianeto Discos. Isso demonstra que tem coisa acontecendo... 

"Subservient Consanguinity" foi lançado oficialmente em 2018, de maneira independente. Em 2021 o disco é relançado pela Cianeto Discos.

Nota: 8,5

Faixas:



Line-up:
Juliano 'Bender' Bernardes (baixo)
Daniel Beraldo (bateria)
André Neil (vocal e guitarra)

Para adquirir "Subservient Consanguinity" em CD, acesse:
https://cianetodiscos.com.br/produtos/gulag-subservient-consanguinity-cd/


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