VØIDWOMB | Entrevista: Conheça o poderoso Black/Death Metal do quinteto português

Embora responsável por revelar várias bandas que se destacam no underground mundial, Portugal não é mencionado com tanta frequência quanto alguns países europeus, especialmente quando falamos de black e death metal. Mas isso está a mudar, e uma das grandes promessas encontradas nas profundezas do país é a obscura banda VØIDWOMB.

A banda surgiu em 2019 em Viana do Castelo, Portugal, e em Fevereiro de 2021 deu luz a sua primeira criação - o EP "Altars Of Cosmic Devotion" via Iron Bonehead Productions. O registro traz consigo 5 faixas sombrias, arrepiantes e poderosas, além de contar com um belíssimo disco físico, lançado em CD, Vinil e Fita Cassete, digno de coleção.

O quinteto é formado por M.S.Vøid (Vocal), Lord (Guitarra), Fractal (Guitarra, Backing Vocal), Noctvs (Bateria) e F.S (Baixo), que contaram um pouco mais sobre a banda e seu primeiro artefato na entrevista abaixo. Confira:

Metal Garage: Olá Guerreiros!
É uma honra ter o Vøidwomb nas páginas do Metal Garage. Primeiramente, como vocês estão de saúde, meus amigos? Como estão as coisas aí em Portugal nestes tempos difíceis?
R: (Lord) Olá! A honra é toda minha. Um prazer enorme ver o nosso som atravessar o oceano e chegar ao Brasil. As coisas não são fáceis para ninguém. Aqui em Portugal o panorama parece querer finalmente melhorar. A pandemia parece querer dar umas tréguas. Os casos são apenas residuais, comparando com as alturas mais problemáticas. Eu sei que aí no Brasil o caso é ainda muito preocupante. Esperamos que tudo melhore rápido. Nada pode apagar o sucedido mas o tempo dará um jeito de ajudar a cicatrizar feridas e amenizar o sofrimento. Novos desafios parecem vir na nossa direção. Temos de nos adaptar. Uma mudança de mentalidades é agora obrigatória.

Metal Garage: Bom, para começar, gostaria que você apresentasse brevemente o Vøidwomb aos nossos leitores e contasse um pouco como a banda surgiu.
R: (F.S) A ideia de fazer uma banda surgiu ainda no fim de 2018. O Marcelo (M.S.Void) propôs a mim e ao meu irmão Ruben S. (Noctvs) fazer uma banda. Eu e meu irmão éramos os únicos com experiência em bandas e como na altura estávamos um pouco parados, decidimos aceitar a proposta dele. Sendo assim, já tínhamos voz (Marcelo), bateria (Ruben S.) e baixo, que neste caso sou eu. Ficava a faltar guitarras. Eu sugeri o nome do Ruben C. (Lord) , que trabalhava comigo naquela altura. Em Janeiro de 2019, fizemos então o nosso primeiro ensaio. Houve uma química musical imediata entre nós. No fim do ensaio todos acordámos que acrescentar mais uma guitarra daria mais corpo e alma à nossa sonoridade. Lord convidou então o Lucas (Fractal) para a segunda guitarra. No ensaio seguinte já éramos cinco. E assim surgiu Vøidwomb com o lineup que todos conhecemos atualmente.

Metal Garage: A banda está a divulgar seu primeiro registro, o EP "Altars of Cosmic Devotion", lançado em Fevereiro nos mais diversos formatos, incluindo Vinil 12" e Fita Cassete. Como está sendo a repercussão do disco até o momento, dentro e fora do país? As expectativas foram atendidas?
R: (Fractal) O feedback tem sido fantástico. Tem até excedido nossas expectativas. A Iron Bonehead Productions (responsável por lançamento em Vinil e CD) e a Gruesome Records, responsável por lançamento em fita cassette, fizeram um trabalho fantástico a todos os níveis. Conseguimos que nosso trabalho se espalhasse por todo o mundo. América do Sul, Estados Unidos e México, Austrália e por toda a Europa. Nosso nome se espalhou rapidamente. Todas as resenhas que tivemos foram bastante positivas. Temos recebido mensagens de várias partes do mundo, de pessoas que consideram o nosso trabalho um dos melhores EP do ano até agora. Muita gente e até editoras nos têm perguntado sobre o nosso futuro. Sobre qual será o nosso próximo passo. Mostram interesse em fazer uma parceria para ajudar no próximo lançamento.

Metal Garage: As letras do EP abordam temas como a mitologia suméria e civilizações antigas. Há uma mensagem ou conceito por do EP, como um todo?
R: (M.S Void) As civilizações antigas tinham uma visão muito sui generis do Cosmos e da sua criação. As suas crenças sempre estiveram bem patentes na forma como olhavam o céu. As civilizações mesopotâmicas como a Suméria e Acadiana são fascinantes nessa perspectiva. Na construção temática do EP, utilizamos informações que a história nos dá sobre o seu pensamento e utilizámos também um lado que a ciência e a história não reconhece e que é geralmente marginalizado. Falo da teoria dos astronautas antigos. Teoria em que se acredita que a humanidade teria tido contato com seres alienígenas há vários milénios atrás. Algumas teorias nos dizem até que a humanidade poderá ter sido criada por esses seres vindos do espaço. Acredita-se que esses seres vindos do espaço possam ser os deuses adorados na antiguidade. No EP nos debruçamos sobre a mitologia suméria e sobre a possibilidade de nós humanos e a nossa origem, não ser exatamente aquela que conhecemos. Existe uma verdade escondida e a resposta está nas estrelas.

Metal Garage: Eu realmente gostei muito do EP, a qualidade está impecável, apesar de se tratar de um primeiro registro. Vocês já possuíam alguma experiência de estúdio? Como se deu o processo de gravação e produção do disco?
R: (Noctvs) De todos nós, eu e meu irmão (F.S) éramos os únicos com experiência a esse nível. Experiência de estúdio e de palco. Todos os outros são estreantes. Eu sou também baterista numa banda de Black Metal aqui de Portugal, chamada Koltum. O João Ribeiro, toca comigo lá e é igualmente produtor. Ele foi por isso mesmo, por uma questão de amizade e proximidade, a nossa escolha para gravação e produção. Todo o processo foi efetuado no Estúdio55, propriedade dele. Por falta de tempo, tudo foi efetuado num espaço de 3 meses, porque estivemos muito tempo sem poder dar o passo seguinte. Mas no fundo foi tudo bastante rápido. Bateria gravada num dia, guitarras num dia e voz e baixo no mesmo dia. Só que, como referi, por falta de tempo, isto tudo aconteceu num espaço temporal de meses. Mas tudo foi tranquilo e bastante natural. Funcionou como uma família. O João desde logo percebeu qual era nossa intenção. Logo ele captou a essência de Vøidwomb o que queríamos transmitir. Fez um trabalho fantástico.

Metal Garage: Como funciona o processo de composição das músicas do Vøidwomb? O que surge primeiro na hora de compor, o instrumental ou as letras?
R: (Noctvs) Por norma o instrumental vem primeiro, Tudo surge de forma muito espontânea. Algumas vezes o Lord traz ideias de casa e nós desenvolvemos entre todos. Felizmente tudo flui de uma forma muito agradável. Combinamos muito bem como banda. Depois de tudo estar composto, vêm as letras, essas são responsabilidade do M.S Void, que demora muito para escrever as letras (risada). É demasiado exigente com a parte mais poética da banda. Quer tudo com um propósito e interligado. Por enquanto tem sido desse modo que temos funcionado e as coisas têm corrido bem.

Metal Garage: Marcelo (M.S Void), eu vi aqui que você é um grande fã do Metal brasileiro. Poderia citar algumas bandas brasileiras que você costuma ouvir? Se quiser recomendar algumas bandas lusitanas aos fãs brasileiros também, fique à vontade.
R: (M.S. Void) Na banda talvez eu seja o mais apegado a som underground feito no Brasil. Na América do Sul em geral, a cena é muito forte. O Chile também tem bandas muito boas como Pentagram (Chile), Cenotafio, Perversor, Unausseprechlichen Kulten, Slaughtbbath, Wrathprayer e Hetroertzen. Peru tem Anal Vomit e Goatsemen e a Colômbia tem os miticos Parabellum e Reencarnácion, Mas Brasil é Brasil. Vocês têm os grandes ROT, que é das minhas bandas preferidas - já agora quero deixar meus sentimentos pelo falecimento do Alex, o “Bucho”. Uma grande perda. Que descanse em paz.
Continuando, existe desde o punk dos Cólera e Olho Seco e o Oi! dos Garotos Podres, os hardcore de Abuso Sonoro, dos Periferia S.A, os R.D.P. Inevitavelmente terei de mencionar Sarcófago, Sepultura e Mystifier. Os Overdose, os Krisiun, Brigada do Ódio, Ulster, Korzus. Pentacrostic, Defy, Offal, Lymphatic Phlegm, ou atualmente uns Jupiterian e Velho. Não tem como parar! Tem tanta banda boa, algumas delas lendárias e seminais dentro do seu gênero. É demais. Tenho a certeza que me estou a esquecer de algumas. O underground corre nas veias de vocês brasileiros.
Em Portugal tem e teve também muita banda boa. A cena não é tão forte mas poderei mencionar os Simbiose, Holocausto Canibal e os Besta, que já fizeram digressões no Brasil e fazem algum sucesso por ai. Temos também uma cena Black Metal bem sólida com bandas como Corpus Christii, Morte Incandescente, Irae, Voemmr, Black Cilice, Womb, Ordem Satânica, Tod Huetet Uebel, Flagellum Dei, Alchemist, Koltum, Necrobode e Decayed. Infelizmente algumas bandas também já foram extintas, como os grandes Sirius, Desire, Downthroat, Revengeance, Infra e Genocide. Temos ainda os Back Alley Lobotomy, Goatfukk, Dead Meat, Undersave, Analepsy, Gaerea e Sepulcros. Temos Thorne e Pledge (da nossa cidade). No punk e no crust posso também mencionar Censurados, The Parkinsons, Misantropia, Scatterbrainiac, Carnage, Dokuga, Sem Talento. Muitas bandas também…

Metal Garage: Para finalizar, a banda já tem em mente o seu próximo passo? Algum plano ainda para este ano?
R: (Fractal) Não vou esconder que estamos a preparar o nosso próximo lançamento. A nível de composição as coisas estão bem encaminhadas. Não sabemos ainda quando entraremos em estúdio. Será em breve, penso eu, mas dificilmente o lançamento será este ano. Teremos de esperar pelo ano de 2022. Para este ano o nosso objectivo é poder dar os primeiros shows ao vivo. Logo que esta maldita pandemia nos deixe essa possibilidade em aberto.

Metal Garage: Bom, muito obrigado pela participação de todos. Desejo sucesso e vida longa ao Vøidwomb. Deixem um recado aos fãs brasileiros.
R: (F.S) Tudo o que posso dizer é que acima de tudo, nós Vøidwomb somos fãs da cena underground brasileira. Nós devemos muito a vocês, pela música fantástica e influente que têm trazido até nós nas últimas décadas. Sem a existência de algumas das bandas brasileiras que todos conhecemos, Vøidwomb não existiria. Fazer uma tour no Brasil seria a concretização de um sonho. Quem sabe não acontecerá...